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sábado, 1 de setembro de 2012

A escravidão que liberta



“Há pelo menos duas maneiras de nós abordarmos uma cidade. Existe a cidade superficial, racionalista, aquela onde triunfa a linha reta… (e) Existe uma outra abordagem da mesma cidade, que é aquela da cidade subterrânea, da cidade da memória”
(Olgária Matos)

Nos prédios históricos de Passo Fundo, além de todo o concreto que pesa nos muros e paredes, encontra-se a vida. Vida essa que retrata um povo enraizado na perseverança e na luta por espaço, personalidade e independência.

Herdada de Cabo Neves, a terra – que era de passagem – tornou-se a morada de um povo que é o próprio Rio Grande. O início, em torno da crença, cede espaço para a morte – de pessoas e de esperança – causada pelo confronto farroupilha. A cidade se reergueu, tal qual fênix. De pé, expandiu-se. As primeiras ruelas da cidade tornaram-se o caminho para a construção da história passo-fundense. E, então, o título de cidade pequena era igualmente pequeno para o que se tornava Passo Fundo.

Quatorze décadas separam o presente do passado que este texto pretende visitar.

1860. Adécada inicia com tensões políticas e geográficas no país e no continente. A América do Sul se prepara para ser palco de uma guerra sangrenta que matou mais de 100 mil homens. Brasil, Argentina e Uruguai, ou a Tríplice Aliança, combateram contra as forças paraguaias. O motivo era físico e se encontrava nas frágeis fronteiras não definidas – ou não aceitas. Francisco Doratioto, historiador, relata que a guerra, por si só, é um jogo e, em especial, na Guerra do Paraguai “não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses”. Ao fim, o lar é o destino.

O caminho para o lar, no entanto, foi interrompido. Dois escravos voltavam da batalha quando, ao chegarem às terras onde hoje fica o atual distrito do Pulador, uma pequena estatueta de São Miguel Arcanjo os impede de continuar. Providência divina, acaso, sorte. Independentemente da interpretação, o caminho tomou rumo diferente e o destino que, antes, era o lar tornou-se a construção de uma capela. Nas terras de Bernardo Castanho Rocha, ergue-se a primeira paróquia, que, fugindo dos ares urbanos, e direcionava-se para o povo do campo. Construída de pau-a-pique e com telhado de capim, a sua simplicidade é preservada até hoje.

Atualmente, um domingo do mês é destinado à celebração da missa na Capela de São Miguel. Cerca de 20 fiéis comparecem e refazem o trajeto percorrido pelos escravos precursores. caminho esse que se confunde com a história de Passo Fundo, cidade que se desenha através do desenvolvimento das relações humanas que nela crescem. Para Ironita Machado e Fernando de Miranda, autores do livro Passo Fundo, presentes da memória, “os fragmentos do passado podem ainda ser apreciados na arquitetura (…) que resiste à passagem do tempo”.

Passo Fundo cresceu. Naquela época, desenvolveu-se no sentido oeste, distanciando do berço onde Cabo Neves decidiu firmar morada. Pelas mãos de escravos, a imagem de São Miguel possibilitou que parte da cidade se tornasse livre. Hoje, reformada e tombada como patrimônio cultural, a capela é o foco da fé. Cerca de15 a18 mil cristãos seguem o destino daqueles que voltavam da guerra rumo ao lar. Desta vez guiados pela crença.

Autor(a): Sammara
É acadêmica do V nível do curso de Jornalismo. Estagiária de Comunicação do Colégio Bom Conselho. Estagiária do Núcleo Experimental de Jornalismo da Agência de Comunicação da UPF
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Hino Riograndense



Autor
Joaquim José Mendanha


Interpretação por
Wilson Paim

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.

Estribilho:
Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda terra.

Entre nós revive Atenas
para assombro dos tiranos;
sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos.

Mas não basta p'ra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.